FUGA de dinheiro da POUPANÇA em JULHO
O especialista também aponta que o pagamento de dívidas pode ser um dos motivos para o saldo negativo na poupança.
Inflação, dívidas e alternativas mais rentáveis explicam retirada de dinheiro da poupança em julho
Economistas entrevistados pelo Brasil 61 apontam que a inflação, o endividamento e a busca por investimentos mais rentáveis estão entre os fatores que explicam a retirada de R$ 908,6 milhões da caderneta de poupança em julho, conforme relatório do Banco Central.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destaca que a atual taxa Selic, em 10,5%, tem levado os investidores a migrarem seus recursos da poupança para aplicações mais rentáveis, como os títulos públicos. "Os títulos do governo estão pagando taxas muito atrativas em comparação ao histórico, o que incentiva os investidores a saírem da poupança sem abandonar uma postura conservadora", observa.
O especialista também aponta que o pagamento de dívidas pode ser um dos motivos para o saldo negativo na poupança. "Grande parte da população está altamente endividada. Segundo o Banco Central, 48% da renda do brasileiro médio está comprometida com dívidas. Isso faz com que muitos retirem dinheiro da poupança para quitar essas dívidas e evitar uma situação financeira ainda mais grave", explica.
Rodrigo Leite, professor de Finanças do Instituto Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que os saques na poupança têm superado os depósitos há vários anos. "Essa tendência se iniciou em 2021, no período pós-Covid. Em 2020, houve um recorde de depósitos na poupança, impulsionado pelo recebimento de auxílios emergenciais. As retiradas atuais são uma continuidade do movimento iniciado após o grande influxo de recursos em 2020", comenta.
Leite também indica que a inflação pode estar contribuindo para os saques na poupança. "Mesmo com a inflação sob controle, ela não significa que os preços estão caindo, mas sim que estão subindo a uma taxa menor. Na prática, se os preços dos produtos e serviços continuam a subir, as pessoas tendem a retirar dinheiro da poupança para conseguir fechar as contas no fim do mês", explica.
Opções mais vantajosas
Quando se trata de renda fixa, Cruz lembra que, além dos títulos públicos, existem outras opções de investimento mais rentáveis do que a poupança, como as LCIs e LCAs, que captam recursos para os setores imobiliário e do agronegócio, e as debêntures, emitidas por empresas de diversos segmentos. "Quanto mais risco o investidor estiver disposto a assumir, maior será a remuneração. Mesmo na renda fixa, há grandes diferenças de risco", acrescenta.
Desde o início do ano, a caderneta de poupança acumula um resgate líquido de R$ 3,7 bilhões.