Mpox: Brasil Monitora Casos e Negocia Compra de Vacinas
Para infectologistas, o país tem capacidade de produzir vacinas em seus próprios laboratórios nacionais.
Mpox: Brasil Monitora Casos e Negocia Compra de Vacinas
Para infectologistas, o país tem capacidade de produzir vacinas em seus próprios laboratórios nacionais.
O mundo está em alerta com o avanço da mpox, uma zoonose causada pelo vírus MPXV, do gênero Orthopoxvirus e da família Poxviridae. O Ministério da Saúde já informou que está monitorando a doença por meio do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) e está coordenando ações para a compra de vacinas. Segundo a pasta, está em negociação a aquisição emergencial de 25 mil doses da vacina Jynneos.
De acordo com o infectologista Hemerson Luz, essa medida é importante, mas ele ressalta que o Brasil também tem plena capacidade de desenvolver uma vacina contra a mpox. “Já existem iniciativas de algumas universidades, como a UFMG. Além disso, temos um parque industrial e científico capaz de produzir vacinas eficazes, mas esses estudos devem continuar. É importante lembrar que o desenvolvimento de uma vacina começa com a fase pré-clínica, que pode durar até dois ou três anos, seguida das fases clínicas, divididas em três etapas, que também podem levar de dois a três anos cada uma.”
Apesar de diferentes laboratórios estarem focados na produção de vacinas específicas contra a mpox, o infectologista Francisco Job explica que a vacina da varíola, aplicada no Brasil por meio do calendário nacional, já apresenta uma eficácia de 85%, o que a torna útil para o controle inicial da doença, especialmente em grupos de risco. “Devemos estar atentos ao surgimento de casos suspeitos para monitorar a quantidade de ocorrências e onde elas estão acontecendo no Brasil,” acrescenta Job.
Ele também destaca que não há motivo para pânico: “Não teremos epidemias de monkeypox como as de varíola que ocorreram no início do século XX no Brasil. Isso jamais acontecerá novamente em um sistema de saúde tão estruturado, que é capaz de vacinar toda a população, se necessário.”
Segundo Francisco Job, já existem diversos grupos ao redor do mundo estudando a monkeypox, muitos dos quais com grande conhecimento sobre a varíola humana.
Aquisição de Vacinas
A Bavarian Nordic, fabricante da vacina Jynneos, solicitou à Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) autorização para que a dose possa ser aplicada também em adolescentes. De acordo com a empresa, as pesquisas demonstraram a eficácia do imunizante tanto em adolescentes quanto em adultos. No pedido enviado à EMA, a empresa solicita a aprovação para aplicação em adolescentes de 12 a 17 anos. Atualmente, a vacina é indicada apenas para pessoas com 18 anos ou mais.
Apesar das preocupações, o médico Hemerson Luz considera que, por não se tratar de um vírus transmitido pelo ar, mas sim por secreções ou contato direto com pessoas infectadas, não é necessária a vacinação em massa neste momento. “É importante ressaltar que a vacinação em massa não está indicada agora. Além da quantidade limitada de vacinas disponíveis globalmente, primeiro devemos focar em estratégias para vacinar os grupos de risco e aquelas pessoas que apresentam maior fragilidade caso contraiam a doença,” salienta.
Francisco Job reforça que o Brasil nunca deixou de estudar a varíola, mesmo após a erradicação da doença. “No momento, não há necessidade de vacinação em massa em nenhuma parte do mundo. Estamos em uma situação de emergência devido ao aumento significativo de casos na África, especialmente no Congo, onde será necessário realizar a vacinação em massa.”
Ele conclui que a vacina deve estar disponível rapidamente quando necessário. “Não há necessidade, neste momento, de o Brasil produzir grandes quantidades de vacina, mas é essencial que saibamos como produzi-la, e nós sabemos.”
Casos no Brasil
Durante a primeira emergência global por mpox, em 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso emergencial da vacina Jynneos para combater a doença. Desde então, mais de 29 mil doses foram aplicadas em todo o país. Segundo o Ministério da Saúde, 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) e quatro laboratórios de referência nacional realizam exames diagnósticos para mpox. Atualmente, o país está abastecido com insumos necessários para essa testagem.
Desde o início do surto de mpox em 2022 até hoje, o Brasil registrou 12.215 casos confirmados ou prováveis da doença, dos quais 91,3% são pacientes do sexo masculino e 70% têm entre 19 e 39 anos. Também foram registrados 16 óbitos, todos do sexo masculino, com idades entre 26 e 35 anos. O último foi confirmado em 17 de abril de 2023.
Somente em 2024, foram confirmados 696 casos e 13 prováveis, com 85,9% dos pacientes do sexo masculino, 44% com idades entre 30 e 39 anos, e 30,6% entre 18 e 29 anos. Neste ano, também foram registradas 49 hospitalizações e cinco internações em UTI.